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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Insano e Salvo

Não venho, cambaleante, afogar minhas mágoas em uma garrafa de escrita.

Também não tenho a intenção de me fazer de vítima, de recorrer a atos solidários ou implorar pela ajuda de um profissional qualificado que pudesse me diagnosticar com maior precisão.

Na verdade - se é que a verdade existe - não preciso ou talvez não queira que alguém venha me dizer algo que eu já estou certo:

Estou louco.

Não como alguns dizem estar após umas biritas.

Justo o contrário, antes. Algumas doses de uísque ou taças de vinho são tentativas desesperadas e sadicamente prazerosas de me encontrar em um estado que domino e conheço.

Não é o que ocorre na loucura. Vivo andando sobre cascas de ovos. Qualquer palavra sincera pode me custar a condenação a um hospício.

E não é de hoje. Só acho que as pessoas tem certo receio à loucura - não que ela exista, devo dizer!

Mas acontece que os lapsos criativos não existem mais. Meu corpo tem se parecido com uma prisão que brinca de quente e frio conforme o dia se arrasta.

12 horas de sono é muito ou pouco a depender de qual momento que se pensa.

De noite quero dia, e de dia quero noite. Como se depois de um banho frio, um banho de sol, uma boa dormida, eu fosse acordar e a sanidade estaria lá...Naquele lugarzinho escondido que preciso manter seguro para não a perder de vez.

Não existe "definitivamente" para um louco. Sequer posso dizer que tenho experimentado a insanidade. Afinal, que diagnóstico fodido seria este dado por um louco?

3 comentários:

  1. Já leu Admirável Mundo Novo? À parte do tema principal que critica o condicionamento biológico e o poder do Estado sobre isso, Bernard, o personagem principal, é ligeiramente menos propenso a esse condicionamento e às formas estatais de mantê-lo. Questiona mais as forças sociais que se impõem sobre ele e os outros, sendo mais consciente delas e, por isso, mais desconfiado e infeliz.
    Em razão disso, é considerado sempre louco, inclusive por si próprio. Não porque realmente o seja, mas porque se permite maior questionamento às regras e aos padrões que o cercam que a maioria.

    Não sei, mas a estória dele me lembrou você. Aliás, seu personagem.

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    1. Sim, já sim. Gosto muito de Aldous Huxley, mais ainda desse livro.

      Tem dois livros interessantes também, aí já mais direcionados à loucura em si. Um é do Foucault (o mais chato) História da Loucura, e outro mais legal, O Alienista de Machado de Assis.

      De todo modo, a loucura é fascinante, mesmo sem saber se ela existe ou não. Experimentá-la é bom pra conhecer um pouco mais. Aliás, vide Portas da Percepção do Huxley, acho que ele não acreditava na loucura.

      Acho que às vezes vai um pouco além do questionamento das forças sociais...mas como é algo meio louco, não sei ainda onde pode levar

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